Pastor aliado de Bolsonaro divulga vídeo para questionar ação de ministro com Renan Calheiros
Malafaia citou reportagem de domingo (10) da Folha, sobre uma articulação de ministros palacianos para emplacar o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no STF (Supremo Tribunal Federal), para criticar o prócer do PP, uma das abelhas-rainhas do centrão.
Como que “o ministro da Casa Civil, um dos mais importantes cargos políticos, vai jantar com Renan Calheiros?”, questiona o pastor.
O pastor indaga como Ciro poderia conspirar com um “cara que quer destruir Bolsonaro por interesses políticos”, peça central no que define como “CPI da safadeza”.
O titular da Casa Civil, Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Fábio Faria (Comunicações) estão entre os que mostraram entusiasmo por Cordeiro nomeado ao STF.
O também presbiteriano André Mendonça, ex-advogado-geral da União, é o nome mais forte entre os pastores próximos ao presidente. E Cordeiro simplesmente não convence a comitiva pastoral de que é um homem de fé.
“Lembra de Constantino? Imperador de Roma?”, diz à reportagem o deputado e pastor Marco Feliciano (PL-SP), um dos braços evangélicos do ocupante do Palácio do Planalto. “Quando cristianizou seu reino, se tornou viável ser cristão para obter o favor do imperador.”
Foram mal recebidas as conversas acerca de uma alternativa a Mendonça, nome combatido a todo custo por Davi Alcolumbre (DEM-AP). Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, ele ainda não marcou a sabatina de Mendonça na Casa e não esconde sua rejeição ao indicado.
“Bolsonaro nos assegurou que a indicação de um evangélico passa por, nós líderes evangélicos”, diz César Augusto, apóstolo da igreja Fonte da Vida. “Esse compromisso o presidente tem com a liderança evangélica.”
O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), da igreja de Malafaia, foi ainda mais incisivo: cabe ao grupo dizer se um nomeado ao STF é de fato um homem temente a Deus.
“Quem tem autoridade moral para dizer ao presidente se ele realmente é evangélico ou não somos nós. Estão achando que vão enganar quem? Vocês não são evangélicos”, diz ele que presidirá a bancada evangélica no ano eleitoral de 2022.
No domingo, Malafaia havia antecipado no Twitter que compartilharia um vídeo para sustentar que dois ministros de Bolsonaro “perderam a condição moral” de seguir no cargo.
Decidiu poupar Fábio Faria, que disse não ter se sentado à mesa que discutiu o assunto. O anfitrião de um dos jantares, o ministro Bruno Dantas (Tribunal de Contas da União), também afirma que não defende Cordeiro ou debateu seu nome.
Já Ciro virou seu alvo preferencial. Em tom de ameaça, o pastor diz que, “se o senhor Ciro não foi no jantar” e “é a favor da indicação de André”, deve convocar a imprensa para deixar clara sua posição. “O senhor é obrigado a vir a público dar uma satisfação. Ministro, você é obrigado a emitir nota clara de apoio a André Mendonça.”
O pastor sugeriu que Flávia Arruda faça o mesmo: diga publicamente que não tem nada a ver com conspirações para enfraquecer Mendonça. Ou emitem uma nota ou encaram a fúria pastoral. “Isso é uma vergonha, minha gente. Onde é que nós vamos parar? Que história é essa?”
Um líder evangélico que acompanha de perto a querela recorreu à brasileiríssima analogia futebolística para descrever a mensagem passada por Malafaia: é como um cartão amarelo dado a Ciro, uma última chance antes de ir a Bolsonaro cobrar a expulsão do ministro.
Alcolumbre, por exemplo, já saiu das graças evangélicas por sua demora em agendar a sabatina de Mendonça no Congresso. Pastores pressionam políticos com a promessa de mobilizar fiéis contra a reeleição deles em seus estados natais.
Os evangélicos são hoje uma das mais fortes bases de apoio do bolsonarismo, e o presidente se afiança na boa relação com alguns dos principais líderes de igrejas do país para conquistar esse eleitorado religioso em 2022.
Fonte: folha.uol.com.br